O Meio Ambiente está aproximando pesquisadores da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ) de moradores da Ilha Grande e de Angra dos
Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro.
Na semana em que se
comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, a universidade está ampliando
as ações e realizando debates para incentivar a preservação, desde
atividades para o conhecimento de espécies exóticas da região e saúde
ambiental até noções de desenvolvimento sustentável.
A
programação - distribuída em três dias - começou na terça-feira (6) com
palestras no campus da universidade, no Maracanã, na zona norte, e
debates. Ontem, a pouco mais de 200 quilômetros dali, a integração ficou
por conta de conversas de gestores do Parque Estadual da Ilha Grande
com integrantes das comunidades.
“A nossa intenção mais
importante nas atividades na Ilha Grande é a preservação das reservas,
que deve ser acompanhada com o conhecimento de como funciona a natureza.
As nossas atividades são focadas na preservação e no conhecimento do
que acontece na natureza em estado original e fazer atividades em que a
população se envolva nas pesquisas para entender a importância da
preservação e do conhecimento”, disse o diretor do Centro de Estudos
Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), Mauro Geraldes, em
entrevista à Agência Brasil.
Para o coordenador geral do Ecomuseu
da Ilha Grande da UERJ, Gelsom Rozentino, há alguns anos havia um certo
distanciamento da comunidade que não entendia muito bem a universidade,
do que é o papel da pesquisa e dos museus, mas a situação vem mudando
com o tempo e consciência vem crescendo muito.
“Essa interação e
essa participação vêm aumentando nos últimos anos. Na terça-feira,
quando eu me apresentei [na programação da Semana do Meio Ambiente],
lembrei que realizamos atividades quase permanentes, mesmo com todas as
dificuldades do museu, em todas as vilas da Ilha Grande. A gente tem
bibliotecas em comunidade que sequer têm energia elétrica, como a da
Enseada de Palmas. É o único equipamento cultural oferecido para a
comunidade que hoje reconhece isso”, contou, acrescentando que, na
Enseada de Palmas, moram 200 pessoas.
Entre as atividades da
programação de hoje (8), alunos da escola Brigadeiro Nóbrega, da Vila do
Abraão, vão visitar o Ecomuseu e as instalações do Ceads. Há, ainda, a
previsão de projeção de vídeos e oficinas com informações de como melhor
aproveitar os alimentos.
Conceitos de preservação
Para
Rozentino, a importância de passar os conceitos de preservação do Meio
Ambiente para os moradores, especialmente da Ilha Grande, é ainda maior
por causa dos períodos em que as comunidades têm que conviver com o
aumento de visitantes na região.
“É um impacto enorme porque são
milhares de visitantes por ano para a Ilha Grande. A Vila do Abraão, que
tem perto de 5 mil habitantes fixos, na alta temporada chega a ter até
20 mil pessoas. São os turistas que vão para as pousadas ou alugam
casas. Além disso, há o impacto dos transatlânticos que fazem a
visitação e na alta temporada tem-se um por dia. Milhares de pessoas vão
para lá para trabalhar em empregos temporários na indústria do turismo
nas pousadas, restaurantes e barcos. Então, há uma movimentação enorme
durante alguns meses do ano”, disse.
Outro problema ambiental que
surge nessa temporada é o acúmulo de lixo. “Armazenar o lixo e
transportar para Angra dos Reis é um problema. Imagina a quantidade que
se acumula nessa temporada. A Ilha Grande tem 193 quilômetros quadrados.
É realmente grande e uma coisa é estar na Vila do Abraão, uma espécie
de capital da ilha, outra coisa é estar em Palmas, no Saco do Céu ou no
Bananal. Cada lugar desses tem a sua especificidade e a sua
complexidade. São lugares com dificuldade de acesso e não há estradas”,
afirmou.
O diretor do Ceads, Mauro Geraldes, alertou que o
impacto ambiental na Ilha Grande influencia diretamente a preservação da
Mata Atlântica. “Como a mata está reduzida a praticamente 10% ou menos
da área original, a Ilha Grande é inteiramente constituída da Mata
Atlântica, então, a preservação passa a ser importante porque é um dos
poucos resquícios que a Mata Atlântica tem. A atuação do Instituto
Estadual do Ambiente e da universidade tenta preservar este ambiente,
através da área do parque e de pesquisas sobre a flora e a fauna do meio
ambiente”, disse.
Espécies exóticas
Ele afirmou que a
ideia de incluir no programa a palestra sobre espécies exóticas foi para
esclarecer a diferença entre elas e as espécies nativas. “Normalmente, a
gente fala das espécimes nativas. É importante diferenciar. As exóticas
acabam sendo úteis, porque são usadas pelo homem e, nelas, têm as
invasoras que temos que evitar a reprodução, mas não significa que não
podem ser aproveitadas”.
Dentro de atividades realizadas ao longo
do ano, os pesquisadores fizeram palestras para explicar aos moradores
como se desenvolvem os macacos do tipo bugios, que começaram a ser mais
conhecidos após os casos de febre amarela no Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Espírito Santo.
Segundo o professor, havia um temor com
relação ao animal por causa do conceito errado de que eles transmitem a
doença. “Na verdade, os macacos são vítimas e fizemos as palestras para
evitar que a população queira matá-los”, destacou.
Ainda dentro
das atividades frequentes, foram criados um quebra-cabeça e um jogo da
memória distribuídos entre alunos da região para eles terem maior
contato com espécimes nativas da flora e da fauna da Ilha Grande. “Isso é
uma forma pedagógica para a formação das crianças. Nós distribuímos de
forma gratuita para todas as crianças das escolas públicas da Ilha
Grande, do município de Angra dos Reis e de Mangaratiba, em um projeto
junto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico”, revelou.
Crise financeira
Se as pesquisas
realizadas na região buscam a preservação ambiental, elas se mantêm na
totalidade e sofrem com a falta dos recursos para custeio, após a crise
que a UERJ vem enfrentando com a redução no repasse de dinheiro pelo
governo do estado.
“As pessoas que continuam fazendo as pesquisas
estão praticamente pagando do próprio bolso professores e alunos. A
gente tenta custear pelo menos o transporte e parte da alimentação. Está
reduzido a praticamente à metade do que deve acontecer. Já foi [assim] o
ano de 2016 inteiro e 2017 até agora”, finalizou o diretor do Ceads.
Fonte: Agência Brasil, em 08/06/2017.
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